Por Rodrigo Russo / ESG / 27 abril, 2021

ESG

Por muito tempo, a lógica empresarial foi guiada pela simples obtenção de lucro. Este era o propósito único de várias empresas e o critério de avaliação do sucesso de um determinado negócio. Com esse objetivo em vista, não havia grande preocupação com a forma de se obter ganho, de modo que a ideia de que os fins (no caso, o lucro) justificariam os meios vigorou no ambiente capitalista.

Desse modo, práticas ética, social e ambientalmente nocivas foram, por muito tempo, relativizadas em prol do cumprimento desse objetivo de ganho financeiro. Todavia, é possível afirmar que esta era acabou – ou, ao menos, se encontra em íngreme declínio, já com seus dias contados.

Com efeito, atualmente, o sucesso de uma empresa depende de uma rede muito mais complexa de fatores além da simples obtenção de receita e lucro – os quais não deixaram de ser considerados, mas que devem ser avaliados conjuntamente com diversos outros critérios relevantes.

A sociedade moderna tem se desenvolvido para que todos os seus integrantes, nos diversos papéis que ocupam, se preocupem cada vez mais com modelos de negócios sustentáveis:

  • Consumidores favorecem empresas conscientes, transparentes e responsáveis em todos os aspectos;

  • Colaboradores buscam empresas que possuam diferenciais de bem-estar, condições dignas de trabalho e gestão de talentos;

  • Fornecedores exigem o atendimento de critérios de qualidade, atendimento às regulações e alinhamento de valores de seus parceiros;

  • Por fim, também os sócios e administradores de empresas já perceberam que a sobrevivência de seus negócios depende do desenvolvimento de um modelo econômico mais sustentável no longo prazo.

Nesse contexto, surge a sigla “ESG”, que representa o conjunto de práticas ambientais, sociais e de governança corporativa implementadas pelos negócios com o propósito de assegurar o crescimento sustentável – no sentido mais amplo da palavra – da empresa.

Trata-se de um modelo ampliativo de qualificação dos negócios empresariais, utilizado, exemplificativamente, para guiar investimentos, escolhas de consumo e celebração (ou rompimento) de parcerias comerciais com base na sustentabilidade da gestão e produção de uma organização. Portanto, mais do que nunca, as empresas que pretendem se manter competitivas e alinhadas com seu público precisam compreender esse conceito e aplicá-lo com seriedade. E, como um dos países com a maior diversidade ambiental e social do mundo, a temática ganha especial relevância para empresas do Brasil.

Afinal, o que significa ESG?

ESG, sigla derivada da língua inglesa, significa “Environmental, Social and Governance”. Em uma tradução literal, ter-se-ia o conjunto “Meio-ambiente, Práticas Sociais e Governança”, que poderia ser traduzido para o português na sigla ASG – Ambiental, Social e Governança Corporativa.

Assim, a sigla engloba um conjunto de temas que são, concomitantemente, financeiramente relevantes do ponto de vista negocial dentro das unidades corporativas e socialmente relevantes para a coletividade. Em síntese, tem-se a união das preocupações econômico-financeira com as responsabilidades sociais e ambientais.

É dizer que implementar práticas relacionadas ao ESG significa investir em um modelo de negócio que seja economicamente viável, maximizando os resultados, enquanto reduzem, também, o impacto negativo socializado com o mundo.

Em outras palavras, trata-se de compreender a correlação entre a atividade empresarial desenvolvida e o impacto gerado, de modo que seja possível potencializar os ganhos e reduzir os impactos negativos (ou, idealmente, obter resultados sociais e ambientais positivos em paralelo à geração de resultados financeiros da empresa).

Em resumo, o ESG é o termo utilizado para negócios que buscam formas de melhorar seus processos de gestão e administração e maximizar seus ganhos empresariais enquanto minimizam seus impactos sociais e ambientais. É um clássico exemplo de relações “ganha-ganha” entre empresas, consumidores e o próprio ecossistema ambiental e social, na qual gera-se valor a todos os envolvidos de forma individual e coletiva.

Isto porque: (i) as empresas se aproveitam da otimização da gestão e vantagens comerciais e reputacionais; (ii) os consumidores se beneficiam de empresas mais transparentes que oferecem produtos e serviços cada vez mais confiáveis; (iii) e o ecossistema ganha com a redução de práticas agressivas ou nocivas, o que gera um aumento na qualidade de vida e nas relações sociais e comerciais, além de potencializar o uso dos recursos naturais de forma equilibrada no longo prazo.

Os três pilares do ESG

Para melhor compreender a abrangência do tema, é preciso compreender o que cada uma das letras que compõem a sigla ESG representa, bem como que tipo de práticas são englobadas por cada conceito.

  • 1

    Meio-Ambiente

    Quanto a este aspecto, tem-se por objetivo a redução do impacto ambiental (ou da “pegada” ambiental), o que pode envolver: políticas de preservação e reparação ao meio-ambiente, investimento em compensação e negócios que visam a regenerar os danos já causados ao ambiente e produzir efeitos positivos, prática de reciclagem, preservação e uso consciente dos recursos naturais e artificiais, eficiência energética, utilização de fontes de energia renováveis, redução da emissão de gases ou resíduos, divulgação de iniciativas de educação e conscientização ambiental, dentre diversas outras possíveis medidas.

  • 2

    Social

    Este pilar se vincula diretamente com o relacionamento entre pessoa jurídica e pessoas físicas, tais como os colaboradores, estagiários, consumidores, prestadores de serviço e a própria comunidade em geral.

    Assim, o aspecto social engloba pode ser expressado por meio de: políticas de inclusão e diversidade dentro das empresas, representatividade nos cargos de liderança, repúdio a qualquer forma de discriminação, melhoria das condições de trabalho, implementação de padrões de trabalho que garantam bem-estar e remunerações justas à toda a equipe, promoção de ambientes de trabalho seguros e sadios, defesa dos direitos humanos, trabalhistas e consumeristas, incentivo à educação e capacitação, buscar e maximizar a satisfação dos clientes, implementar políticas de proteção de dados, segurança e garantia de privacidade, manutenção de um bom relacionamento com a comunidade na qual a empresa se insere e promoção de projetos e causas sociais relevantes para cada comunidade.

  • 3

    Governança

    O pilar da governança corporativa se relaciona com o modelo de gestão e administração da empresa.

    Assim, expressões de práticas relacionadas à governança podem ser: políticas de anticorrupção, criação de um conselho de ética, transparência, prestação de contas, estruturação de um comitê de auditoria fiscal, estruturação dos valores e condutas corporativas, criação de um canal de denúncias, requerimentos e comunicações.

Por que é importante implementar práticas ESG na sua empresa?

Práticas corporativas sustentáveis, transparentes e mais responsáveis estão diretamente ligadas ao desempenho dos negócios e à geração de valor. Se anteriormente este conjunto de condutas poderia repelir os empresários que o concebiam – erroneamente – como um “ônus facultativo”, hoje, já se entende que o desenvolvimento de modelos de negócio sustentáveis não é apenas necessário, mas também economicamente mais viável.

Nesse sentido, enganam-se gravemente aqueles que imaginam que os negócios sustentáveis não são lucrativos ou que a adequação aos moldes ESG seria um “gasto desnecessário”.
Pelo contrário: empresas e fundos de investimento no Brasil e no exterior já chamam a atenção por terem apresentado retornos sensivelmente maiores do que empresas com práticas mais tradicionais, que ainda não implementam essas políticas negociais sustentáveis .

A explicação por trás desses dados é também a expressão da importância de adoção das práticas de ESG: empresas que adotam essas boas práticas ambientais, sociais e de governança conseguem aumentar sua receita e reduzir custos. Isto ocorre por diversos fatores que decorrem logicamente da implementação desse tipo de prática.

Em primeiro lugar, práticas ESG atraem colaboradores mais capacitados e aumenta o engajamento da equipe, que se vê mais motivada a produzir e render em um ambiente mais atraente. Ademais, as boas práticas sociais e de governança auxiliam na captação e manutenção de talentos, o que contribui para o desenvolvimento da empresa e, consequentemente, com seus resultados operacionais.

Nesse sentido, evita-se, ainda, gastos com rotatividade de funcionários, processos seletivos frequentes e treinamentos de novos colaboradores.

Em segundo lugar, a adoção do modelo ESG gera uma maior atratividade aos consumidores, que estão cada vez mais preocupados com os impactos socioambientais de seus hábitos de consumo. Desse modo, gera-se um ganho reputacional, na medida em que os consumidores são atraídos por produtos e serviços sustentáveis, advindos de empresas transparentes e que se preocupem com o bem-estar, satisfação e segurança do seu público-alvo, bem como em trazer impactos positivos à comunidade.

Por outro lado, se os consumidores favorecem aquelas empresas que adotam as práticas mencionadas, é lógica a conclusão de que as empresas que ainda não adotaram tais práticas, gerando desconfiança por comparação às suas concorrentes, serão crescentemente desfavorecidas e prejudicadas no longo prazo.

Em terceiro lugar, a higienização da governança corporativa gera uma otimização dos processos, redução de custos, facilita a detecção antecipada de riscos, possibilitando um gerenciamento e redução de riscos mais eficaz, além de propiciar uma contenção de gastos desnecessários ao evitar problemas com corrupção e disputas societárias.

Evidentemente, empresas que já se encontrarem em estado de conformidade buscarão se relacionar com outras empresas que também possuam esses cuidados e valores semelhantes, o que gerará uma cadeia de relações com critérios de qualidade mais rigorosos na escolha de parceiros e fornecedores.

Em quarto lugar, a implementação de um modelo de negócio ESG pode representar também um diferencial atraente nos momentos de captação de recursos de investidores, seja em projetos de crowdfunding, ou no momento de abertura do capital da empresa.

Outrossim, o estado de conformidade com o ESG envolve a perspectiva de longevidade de uma organização. Realmente, é necessário se adequar à legislação já vigente e minimizar riscos trabalhistas, ambientais, administrativos e fiscais, bem como eventuais penalidades decorrentes do descumprimento das legislações em vigor. Contudo, é imperioso estar atento aos desafios legislativos e de governança, ainda que não estejam necessariamente legislados.

Assim como ocorreu com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), a nítida tendência é que os critérios ESG passem por processo de regulamentação robusto no curto e médio prazo. Os negócios no Brasil, portanto, serão impactados pelas diversas normas estrangeiras que já vêm sendo debatidas e implantadas globalmente.

Desse modo, para prosperar no longo prazo, é indispensável que as empresas ajam preventivamente, se antecipando aos riscos regulatórios que estão por vir e, com isso, minimizem os custos de adequação às legislações – afinal, o processo de adequação será mais brando e menos custoso para empresas que já tiverem uma maturidade sustentável maior.

Por fim, vale destacar que os benefícios do modelo ESG não estão restritos às imensas companhias de atuação nacional ou global. Empreendedores e empresas de todos os portes certamente sentirão os reflexos dessa mudança de paradigma em suas atividades cotidianas. A título exemplificativo, a adequação aos parâmetros ESG poderá ser exigida contratualmente, inclusive com a previsão de auditorias ou meios de fiscalização do cumprimento em relações de parceria, de financiamento, investimentos e tantas outras.

Conclusão

Por todas as razões expostas acima, as questões englobadas pelo ESG têm desempenhado um papel cada vez mais importante no processo de tomada de decisões das companhias de todos os portes e no seu posicionamento no mercado.

Com efeito, não há um segmento específico de atuação ou um tamanho mínimo para que as empresas se beneficiem da implementação dos critérios ESG. Qualquer corporação pode aplicar um projeto de adequação, que vai muito além de conformidade com a legislação trabalhista ou ambiental, devendo ser a internalização de uma nova cultura traduzida em processos operacionais responsáveis, transparentes, éticos e sustentáveis.

Nas palavras do grande investidor Warren Buffet, “Alguém está sentado na sombra hoje porque alguém plantou uma árvore há muito tempo”. O investimento no modelo negocial sustentável tem se provado valioso, e aqueles que se anteciparem, “plantando esta árvore” agora, decerto usufruirão de seus benefícios no futuro.

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